Quinta-feira, 8 de Maio de 2008

PROLEGÓMENOS - Crónicas do Barroso

por António Chaves

 

Apresentações

 

Lisboa: Teatro Nacional Dª Maria II – 27 de Maio às 18 h – Jantar na Casa de Trás-os-Montes às 20 h

Vila Real: Grémio Liter. Vilarealense – Bibliot. Munic.ipal Dr. Júlio Teixeira – 16 de Maio às 21 h

Boticas: Biblioteca da Câmara Municipal – 23 de Maio às 18:30 h

Montalegre: Feira do livro, 8 de Junho

 

Um Olhar sobre a Terra

 

Miguel Torga deixou-nos, há mais de uma década, mas não sem antes nos mostrar como se olha para o mapa da nossa origem: «enxutos (os olhos) e juízo assente , eu estendo o mapa concreto de Trás-os-Montes no soalho desta sala e que cada um de nós, com os pés enterrados no húmus da sua aldeia o povoe de naturalidade…»


Bento da Cruz responde, de pronto, à chamada: «Lá na minha aldeia, a terra estava dividida em leiras. Cada um trabalhava a sua. Pincipiei por sachar a minha como via fazer a todos os outros. Fui aquilo que hoje se chama um trabalhador infantil. Mas então ninguém falava nisso. Quando troquei a enxada pela caneta, a minha leira passou a ser o Barroso».

 

E ainda: «Para mim, Barroso é um Paraíso. O único ou dos poucos que restam à face da terra. Tudo no Barroso: paisagem, sol, luz, estrelas, flores, aves, bichos, gentes mantêm uma pureza e uma frescura edénicas. Estivesse eu naquele estado de graça do nosso pai Adão, antes da trincadela na maçã, e decerto arrancaria à minha leira verdadeiros tesoiros».

 

Óscar Lopes confessa-nos ao prefaciar um desses tesoiros: «Antes de ler este livro, a que só gostaria de mudar o título (Planalto de Gostofrio), eu tinha como melhor romance português da infância o CINCO REIS DE GENTE, de Aquilino Ribeiro».

 

Regressamos a Miguel Torga. «O universal é o local sem paredes. É o autêntico que pode ser visto de todos os lados, e em todos os lados está certo como a verdade. Ora Trás-os-Montes é essa realidade sem muros, esse torrão aberto aos olhos do mundo, cioso de lhe pertencer e de o servir. Palmo de chão de uma pátria e húmus omnipresente».

 

Urbano Tavares Rodrigues acentua o registo: «Eis como um livro (Contos de Gostofrio e Lamalonga) tão voluntariamente localizado, fruto e expressão da experiência tão aderente de simpatia que permitiu a Bento da Cruz erguer a sua galeria de homens e bichos, e às vezes de homens bichos, assim alcança a universalidade». Também Méndez Ferrin se refere em A LOBA,a «um romance destinado a prevalecer....de sabores porventura esquecidos que nos libertam da escolaridade e do regulamento e nos fazem renascer, no coração, um português riquíssimo em vozes e expressões idiomáticas que julgávamos ter perdido e que aos galegos nos obriga ao re-encontro com nós mesmos».

 

E agora, já marcados os pontos de encontro e de consagração, voltemos a dar a palavra a Miguel Torga: «A faixa dos carreiros escusava bem de ser tão comprida; mas como andam de terra em terra, vá lá, desculpa-se a presunção. E pronto! A dobadoira roda que é uma maravilha. O novelo começa a crescer, crescer, e temo-lo daqui a pouco do tamanho do coração.

 

- Mas esperem aí! De onde é o amigo? De Freixo? Entre! Entre na roda e colha amêndoas…Queria ficar de fora, o grande maroto! E nós, santinho? De pinhãocelo?! Vamos! Aparelhe os machos e ferre-lhes com a carga em cima. Depressa! Pena não haver ninguém do Pocinho…Há?! Ó criatura de Deus, salte para dentro do rabelo e agarre-se à espadela! Mas cuidado! O cachão da Valeira é traiçoeiro…Apegue-se a S. Salvador do Mundo!

 

Perfeito! Temos o nosso reino animado. Os rios com barcos e barqueiros, as serras com rebanhos e zagais, os lameiros com charruas e lavradores…E podemos olhá-lo orgulhosos! Nenhum outro mais belo, castiço e aberto, tão capazmente servido pelos seus filhos. Terra viril e homens viris. Nem a sua beleza tem maneirismo, nem o seu catecismo é arcaico, nem a fundura dos seus horizontes significa perdição no vago, nem os sentimentos dos habitantes são mesquinhas fibrilações da alma..……O destino quis que houvesse no topo da pequena leira lusíada uma costeira onde tudo tivesse carácter e dignidade».

 

Lá estaremos todos, unidos no mesmo sentimento!

publicado por ctmad às 07:21
link | comentar | favorito

quem somos

seguir perfil

. 2 seguidores

pesquisar

Setembro 2011

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30

posts recentes

A NOSSA CASA VAI FAZER 10...

Saíu o NTMAD de Setembro

CIÊNCIA E CULTURA TRASMON...

Pintores trasmontanos exp...

ADQUIRA PRODUTOS DE CHAVE...

18 DE JUNHO: DIA DE CHAVE...

FESTA DO FOLAR E DO AZEIT...

ASSEMBLEIA GERAL COMPLEME...

ELEIÇÕES PARA OS ORGÃOS S...

Eleições para o triénio 2...

arquivos

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

links

blogs SAPO

subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub